
Os dois foram acusados dos crimes de homicídio culposo e lesão corporal culposa devido ao desabamento de parte do anel superior do estádio, em 25 de novembro de 2007, que causou a morte de sete torcedores. Na apelação criminal, a procuradora de Justiça, Elza Maria de Souza, ressalta que o acervo de provas levantadas no decorrer da instrução criminal demonstra “nitidamente” que a conduta de Raimundo Nonato (Bobô) e Nilo dos Santos “é tipicamente culposa”.
Ela lembra que os apelados tinham pleno conhecimento das condições precárias do estádio e da necessidade de reformas estruturais em caráter emergencial, conforme indicado no relatório de perícia feito pela Geluz Engenharia e Construção Ltda em setembro de 2006. De acordo com a procuradora, a partir do laudo da Geluz, noticiando que as condições da estrutura das arquibancadas poderiam acarretar “graves acidentes”, o MP, via promotora de Justiça, Joseane Suzart, ajuizou ação civil pública requerendo a interdição do estádio em caráter liminar.
O teor do laudo foi levado ao conhecimento dos responsáveis pela manutenção e operação da praça esportiva. “Assim, Nilo dos Santos, à época diretor de operações da Sudesb, em 10 de janeiro de 2007, requereu a interdição parcial do estádio, pedido acolhido pelo diretor-geral”, recorda a procuradora.
Segundo ela, o próprio Nilo, ao se pronunciar sobre a necessidade urgente de uma licitação para contratar serviços de recuperação no estádio, em fevereiro de 2007, destacou 'a possibilidade de desprendimento das placas de concreto e das ferragens da estrutura da arquibancada, podendo causar acidentes de proporções maiores'.
LAUDO TÉCNICO
A representante do MP afirma que, em laudo técnico de julho de 2007, a Vigilância Sanitária Municipal sugeriu reforma física e estrutural das dependências do estádio, 'tendo em vista que a situação atual põe em risco a saúde dos indivíduos que a frequentam', e a Polícia Militar, por meio do major Edilson Tavares Santos, em relatórios de junho e novembro, assinalou a existência de deterioração das paredes, vigas e lages, juntando fotografia na qual se via que um pedaço da arquibancada já havia cedido.
Mesmo estando evidente a necessidade de ampla recuperação da estrutura física, após a realização de pequena reforma no valor de R$ 49 mil, o estádio foi liberado para a partida entre o Esporte Clube Bahia e o Vila Nova Futebol Clube, pontua a procuradora. Constata-se que eles não agiram com o dever de cuidado, pois deveriam manter o estádio interditado, argumenta Elza Maria de Souza.
Ela diz ainda que, “depois do fato ocorrido, as perícias feitas pelas Polícias Federal e Civil, Universidade Federal da Bahia e Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), comprovaram que o desabamento de parte da arquibancada se deu em razão da falta de manutenção preventiva regular da estrutura”.
Concordando com o teor da denúncia oferecida pelo promotor de Justiça Criminal, Nivaldo Aquino, em março último, a procuradora de Justiça, na apelação, ratifica que “a responsabilidade penal de Raimundo Nonato ficou comprovada pela imprudência cometida ao determinar a liberação do estádio, permitindo a entrada de cerca de 60 mil pessoas em local que apresentava problemas de deterioração estrutural.
Reforça também a responsabilidade de Nilo dos Santos pela negligência ao colaborar com a decisão de autorizar o acesso dos torcedores, mesmo tendo ampla consciência de que os reparos feitos pela empresa Tecnocret Engenharia Ltda. não sanariam os defeitos apontados no laudo técnico fornecido pelo Geluz. (Foto: Roberto Costa Pinto/Flickr)
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