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sábado, 11 de julho de 2009

Crônica da semana / Ciúme e Crime

Dois episódios alertam para o risco de relações afetivas doentias

Num salão de beleza do Centro Histórico de Salvador, uma jovem lança ácido em oito mulheres. Numa casa de um condomínio de classe média-alta de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, um jovem tortura a mulher. O que aproxima os dois episódios? A suposta relação afetiva onde a amorosidade, a compreensão e o diálogo, essenciais para uma boa convivência, cedem lugar ao ciúme patológico.

Então o que leva uma pessoa a vivenciar o ciúme doentio? Sem querer enveredar na área de competência de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, entre outros estudiosos do comportamento e da mente humana, faço algumas especulações. Não seria o equívoco de um achar que o outro é sua propriedade nesse ambiente complexo dos relacionamentos amorosos? Não seria falta de amor próprio, de pouca autoestima, que favorecem o apego ao sofrimento, e não à libertação da dor?

São perguntas para contribuir na reflexão acerca dos dois fatos ocorridos na capital e na Região Metropolitana, que chocaram a população nos últimos dias. Na quinta (9), começo da tarde, oito jovens estavam no Centro de Beleza Meg Star, na Rua São Miguel, onde de repente apareceu outra jovem e atirou uma substância química, deixando todas com marcas de queimaduras.

A acusada do crime é Suelen Santos Medeiros, 23 anos. Presa seis horas depois, contou à polícia sua versão. Ela admitiu desavença com uma das vítimas, que teria um relacionamento com seu companheiro. Segundo Suelen, essa pessoa jogou o ácido primeiro. E, ao reagir, tomou o frasco e invadiu o salão. De uma forma ou de outra, a jovem deve responder por lesões corporais graves.

No dia 25 de junho, a assistente social Luciana Brasileiro Lopo, 31 anos, foi torturada pelo professor de Educação Física, Adalberto França Araújo Filho, 39, que cumpre prisão temporária. Com a suspeita de traição, ele praticou todo tipo de agressão contra a jovem para ela confessar. Adalberto queimou a mulher, aplicou golpe de jiu-jitsu, esfaqueou e ainda deu um tiro na perna. Segundo relato da vítima, a empregada doméstica foi forçada a ajudar.

O artigo Ciúme e crime: uma observação preventiva, publicado pela PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, Vol. 3, nº.2, 2002, disponível aqui, ajuda a compreender o processo das "relações de amor" que, muitas vezes, resulta em tragédias. O artigo aborda a questão no plano psicológico e das relações afetivas. E chama a atenção para os sinais de alerta.

Em um dos trechos o artigo cita: "... se analisarmos mais detalhadamente o ciúme, podemos perceber, logo de início, que não se trata de um sentimento voltado para o outro, mas sim voltado para si mesmo, para quem o sente, pois é, na verdade, o medo que alguém sente de perder o outro ou sua exclusividade sobre ele. É um sentimento egocentrado, que pode muito bem ser associado à terrível sensação de ser excluído de uma relação".

A leitura do estudo é recomendável porque possibilita algumas observações desse universo onde andam próximos os sentimentos de amor e ódio; vaidade e baixa-autoestima; segurança e fragilidade; aceitação e negação; alegria e tristeza; opressão e liberdade. A compreensão e o respeito pelo espaço individual favorece, com certeza, os especiais momentos de intimidade e cumplicidade.


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